Em sua segunda gestação, Deise Roberta de Souza Costa, 34 anos, descobriu que espera gêmeas siamesas. Alice e Sofia estão ligadas pelo tórax e compartilham o mesmo fígado e o mesmo coração. A mãe é de Santa Clara D’Oeste, a 120 quilômetros de Votuporanga, e está fazendo o acompanhamento no Hospital de Base de São José do Rio Preto.
“Descobri que estava grávida com quatro meses. Como eu não tenho ciclo menstrual, passei mal um dia e minha pressão ficou baixa. Como sou hipertensa, fiquei preocupada e fiz um teste de farmácia. Deu positivo, então fui e fiz um exame de sangue que confirmou”, contou.
Deise disse que não acreditou a princípio que tinha engravidado, e foi encaminhada até o Ambulatório de Especialidades Médicas (AME) de Santa Fé do Sul para fazer o acompanhamento médico. “Lá eles pediram um ultrassom morfológico, então fui até Fernandópolis e quando a médica viu na tela, pediu para que eu levantasse e andasse um pouco para ter certeza do que estava vendo. Foi aí que descobri que eram gêmeas siamesas”.
Depois da descoberta, Deise foi encaminhada para fazer acompanhamento pré-natal no Hospital de Base em Rio Preto. “Agora eu vou de duas a três vezes para lá fazer exames e consultas. No começo eu reclamava da distância, mas já estou achando até perto, de tantas vezes que fui para lá nesses últimos meses”.
A mulher está com 32 semanas de gestação, e os médicos pretendem fazer a cesárea quando ela estiver com 38 semanas. “Eu não sinto nada de mais, às vezes não consigo me abaixar para pegar alguns objetos. Como os bebês estão ligados, elas se mexem juntas, e às vezes dói um pouco”.
Os médicos que acompanham Deise já fizeram vários exames, mas não conseguiram chegar a um consenso, por isso eles vão esperar as crianças nascerem para saber o que vão fazer, pois existe apenas um coração, em um dos bebês.
“Eles não me dão uma resposta concreta, o que sei é que elas estão ligadas pelo tórax e que dividem o mesmo fígado e o coração. O fígado não é o problema, pois ele pode se regenerar, já o coração que é mais complicado”.
A mãe foi orientada a não comprar enxoval para os bebês, como uma forma de alerta para não criar expectativas. “É muito complicado não poder comprar nada, quando minha outra filha foi nascer, com 3 meses o quarto dela inteiro já estava montado”. Um advogado também terá que ser contratado pela família a fim de ação judicial para que os bebês possam ser separados.
Com sete meses e meio de gravidez, Deise ainda continua trabalhando. Ela é chefe de cozinha em um frigorífico de peixes em sua cidade Santa Clara D’Oeste.
Ela conta que o dono da empresa em que trabalha é médico e que a visita todos os dias para saber a sua situação. A cozinheira irá tirar uma licença gestação na próxima semana, e após o nascimento dos bebês a licença maternidade.
O marido de Deise, Leandro Roberto Lucheti, de 38 anos, é pedreiro e relata que ele acredita que isto aconteceu com eles, pois é uma provação de Deus. “Não adianta eu falar que qualquer um pode passar por isso, acho que se não conseguíssemos carregar esee compromisso, Deus não teria nos passado essa missão. Agora é só pedir a Deus para ver o final”.
 

 
Especialista vê pouca chance
Especialisatas ouvidos pelo Diário afirmam que em casos como o das gêmeas Alice e Sofia, de Santa Clara D’Oeste, são bastante complexos e que a chance de sobrevivência é muito pequena, uma vez que as duas crianças compartilham o coração, órgão vital para a sobrevivência. “Uma coisa é certa, em caso de separação das duas, uma com certeza não sobreviverá, pois sem coração não tem como continuar viva”, afirma o médico geneticista de São Paulo, Ciro Martinhago, especialista em reprodução humana.
O profissional diz ainda que neste caso, o mais provável é que os médicos optem por não separar as crianças, o que pode garantir um tempo de vida maior para as duas, porém, em condições muito difíceis. “Juntas pelo tórax nunca terão uma vida comum. Provavelmente viverão em uma cama, ligadas a aparelhos”, afirma o especialista. Martinhago também explica que esse tipo de gravidez não tem como ser prevenida e também não há intervenção que possa ser realizada ainda no útero.
“Ainda não descobrimos o que causa esse defeito na divisão celular dos embriões, mas sabemos que são situações que só podem ser resolvidas depois do nascimento”, explica. A médica ultrassonografista do Ultra-X em Rio Preto, Myriam Bambini Sanches, afirma que casos assim são muito raros, em média 1 a cada 200 mil nascimentos no mundo. “Eu já atendi uma paciente com esse diagnóstico, mas infelizmente as duas crianças morreram”, explica.
Em 20 anos, 3º caso atendido no HB
O caso de Deise é o terceiro de gêmeos siameses atendidos pelo Hospital de Base, em Rio Preto, nos últimos 20 anos. O primeiro foi registrado em 2006, e o segundo, em 2008. Aline e Analu nasceram no dia 2 de abril de 2006, em Penápolis, cidade onde a família residia. As meninas eram unidas pelo tórax e abdome e dividiam o mesmo sistema circulatório, e por isso a cirurgia de separação não pôde ser realizada. Três meses e dois dias após o nascimento, as meninas morreram, vítimas de parada cardíaca quando ainda estavam internadas na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital de Base.
O segundo caso registrado em Rio Preto foi das gêmeas Ana Laura e Maria Clara, que nasceram no dia 14 de março de 2008 e morreram duas horas depois do nascimento. As meninas, também unidas pelo tórax e abdome, dividiam o mesmo coração e por isso não resistiram. A mãe das gêmeas era de Mirassol e a gestação acompanhada em Rio Preto.