Uma nova geração de sequenciamento genético pode permitir às clínicas de FIV                                                                     implantar embriões vencedores e saúdaveis.

David Levy and Marybeth Scheidts holding their baby Connor Levy

O bebê Connor Levy com seus pais David Levy e Marybeth Scheidts

Nasceu nos Estados Unidos o primeiro bebê que teve seu genoma totalmente mapeado.
Connor Levy nasceu em 18 de maio de 2013, de um casal que teve seus embriões checados para possibilidades de anormalidades genéticas por cientistas de Oxford, no Reino Unido.
O processo permitiu aos médicos responsáveis pela FIV do casal selecionar os embriões com o exato número de cromossomos. Os que teriam a mais alta chance de gestar um bebê saudável.
O nascimento de Connor demonstrou como a ‘Próxima Geração de Sequenciamento’ (NGS – next-generation sequencing) deverá transformar a seleção de embriões nas clínicas de FIV. Ainda que os cientistas tenham olhado apenas os cromossomos – as estruturas que guardam os genes – nesta ocasião, o custo decrescente do sequenciamento genético total significará que em breve os médicos poderão ler todo o DNA dos embriões antes de escolher quais deles implantar na mãe, por meio de FIV.
Marybeth Scheidts, 36, e David Levy, 41, tentaram outro tratamento de infertilidade, a inseminação intrauterina, três vezes sem sucesso antes de optarem pela FIV, realizada na clínica Main Line Fertility na Pensilvania.
Como parte de um estudo internacional com Dagan Wells, especialista em fertilidade na universidade de Oxford, foi oferecido ao casal fazer o NGS (Próxima Geração de Sequenciamento) para checar anormalidades cromossômicas em seus embriões – que são responsáveis por cerca da metade dos abortos.
As chances de um embrião ter o número incorreto de cromossomos eleva-se de acordo com a idade da mãe, e potencialmente com a idade do pai. Para mulheres na faixa dos 20 anos, um em cada 10 embriões pode ter um número incorreto de cromossomos, mas para mulheres na faixa dos 40 anos, mais de 75% podem ser errados.
Na maioria das vezes, embriões com anormalidades cromossômicas falham na implantação no útero. E aqueles que não falham geralmente são abortados. Os que chegam a termo na gravidez nascem com desordens genéticas, como as síndromes de Down e de Turner.
Depois do tratamento usual de FIV na clínica americana, o casal teve 13 embriões, que passaram pelo processo de cultura e então tiveram células retiradas e enviadas para o doutor Wells, em Oxford, para o sequenciamento genético. Os testes mostraram que somente três embriões tinham o número correto de cromossomos.
Baseados nos resultados do sequenciamento, os médicos americanos transferiram apenas um dos embriões saudáveis e congelaram os restantes. O único embrião foi implantado e nove meses depois Connor nasceu.
Detalhes do estudo serão revelados na próxima reunião da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE), que começa nesta segunda-feira, em Londres.
Um segundo bebê, que teve o mesmo sequenciamento genético, deverá nascer no próximo mês, de um casa que fez FIV no centro de fertilidade da Universidade de Nova Iorque.
A técnica de Array CGH também pode ser utilizada para o escaneamento de anormalidades cromossômicas, mas encarece em 2 mil libras o custo da FIV. Wells disse que a técnica NGS diminui o custo do processo em um terço. Checar o número de cromossomos é muito mais simples do que ler todo o DNA acuradamente.
“É difícil quantificar o quanto revolucionário isto é para a reprodução humana assistida”, disse Michael Glassner, que conduziu o tratamento do casal na clínica Main Line Fertility. “Este teste aumenta a taxa de nascimentos por FIV em cerca de 50% e reduz o índice de abortos a um mínimo. E será muito menos caro. Em cinco anos, este será o ‘state of the art’ e todos os casais de FIV poderão fazer o teste”.
No Reino Unido, os médicos são proibidos de selecionar embriões se não for por sérias condições médicas. Mas ao tempo em que os cientistas compreendem melhor as causas genéticas das doenças, a necessidade de selecionar embriões para evitar câncer e outras doenças na vida adulta se intensificará.
“Podemos ter um panorama assustador se começarmos a falar de altura e cor dos cabelos”, disse Glassner. “Temos que ter a certeza de que este procedimento será utilizado judiciosamente”.
A perspectiva de ‘bebês arquitetados’ é ainda remota, mesmo que fosse legal. O procedimento de FIV produz apenas uma dúzia, mais ou menos, de embriões, no máximo. Assim, as chances de ter um bebê com todos requisitos que o casal desejaria são muito pequenas. “FIV é ainda a forma mais cara, desconfortável e sem garantias de ter um bebê no final. Eu não posso imaginar pessoas querendo passar por todas as dificuldades de uma FIV para fazer uma coisa tão trivial como naturalemente engravidar”, disse Wells.
Fonte: http://www.guardian.co.uk/science/2013/jul/07/ivf-baby-born-genetic-screening