Avanço Genômico do Mês

Traduzimos para o blog da Clínica Ciro Martinhago Medicina Genômica esta matéria que fala sobre mutações genéticas na flora intestinal provocadas por consumo de adoçantes artificiais. O estudo foi realizado em Israel e promete ser um marco revolucionário para o futuro da nutrição.

microbiota

Atualmente, seis tipos de adoçantes artificiais não calóricos estão aprovados pelo FDA americano para uso nos Estados Unidos. Estes substitutos do açúcar são populares devido ao seu conteúdo minimamente calórico e baixo custo.
Muitas pessoas acreditam que o uso de adoçantes não calóricos contribui para a perda de peso, regulação dos níveis de glicose no sangue melhora da saúde dental. Enquanto que os substitutos do açúcar são recomendados para indivíduos com intolerância à glicose e diabetes tipo 1 e 2, muitas outras pessoas que não são afetadas por essas condições escolher usar esses produtos ao invés dos açúcares naturais.
Dados sobre os benefícios e riscos dos adoçantes artificiais nos últimos anos tem sido controversos. O ‘Avanço Genômico do Mês’ de Setembro está focado em um estudo publicado na revista Nature pelo Dr. Jotham Suez e seus colegas do Instituto de Ciência Weizmann de Israel que atesta os potenciais riscos dos adoçantes artificiais por meio de um mecanismo ainda não profundamente explorado: a alteração da microbiota intestinal.
A microbiota intestinal, ou a população de microrganismos vivos no intestino humano, desempenha papéis importantes no corpo humano, incluindo a regulação da digestão. Dieta e outras condições do corpo podem afetar a função e a composição da microbiota intestinal. Porque os adoçantes artificiais não são digeridos pelo corpo – daí a falta de calorias – eles tem um contato direto com os micróbios intestinais.
Em uma série de experimentos, o time de cientistas alimentaram um grupo de ratos com produtos naturais com água, glicose (feita quando o corpo quebra os amidos como carboidratos) e sucrose (açúcar de mesa) separadamente. E outro grupo de ratos foi alimentado com três dos mais populares substitutos do açúcar – sacarina, aspartame e sucralose, os quais são disponíveis em supermercados, cafés e restaurantes nos EUA.
Quando testado par diferenças metabólicas, o segundo grupo de ratos apresentou níveis elevados de glicose no sangue no período de duas horas após o consumo do alimento adoçado artificialmente. Normalmente, os níveis de glicose aumentam ligeiramente após a refeição. Este aumento provoca o pâncreas a produzir insulina de forma que os níveis de glicose não sejam muito altos. A permanência constante de níveis altos de glicose no sangue pode danificar os olhos, os rins, nervos e vasos sanguíneos e, no final, levar ao desenvolvimento de diabetes.
A equipe de investigação tomou medidas para assegurar que eles estavam abordando todos os fatores que podem ter influenciado os resultados. Eles repetiram o experimento com ratos sendo alimentados com uma dieta rica em gordura para ver se a obesidade poderia alterar suas constatações, administrando sacarina pura, usaram uma raça diferente de ratos e até mesmo fezes dos grupos iniciais transplantadas em ratos livres de germes para comparar os resultados. Em todos os casos, os ratos alimentados com adoçantes artificiais tinham elevadas intolerância à glicose.
Os pesquisadores também alimentaram os ratos com antibióticos, os quais são conhecidos por matar as bactérias intestinais. Interessantemente, a diferença nos níveis sanguíneos de glicose nos ratos alimentados com açúcares naturais e os alimentados com açúcares artificiais desapareceu. Isso levou a equipe para investigar se a intolerância à glicose associada ao consumo de adoçantes artificiais foi induzida por mudanças na microbiota intestinal.
Eles também sequenciaram os genomas de microrganismos encontrados em amostras fecais de ratos. Usando o banco de dados do Human Microbiome Project como referência de dados genéticos, os pesquisadores foram capazes de identificar e comparar as composições da microbiota dos ratos, e encontraram mudanças significativas na microbiota dos ratos alimentados com adoçantes artificiais. Ainda mais preocupante foi a descoberta de que as alterações genéticas na microbiota intestinal estão associadas aos caminhos da obesidade em ratos e humanos.
Para estudar os efeitos desses substitutos do açúcar nos humanos, a equipe de pesquisadores coletou dados de 381 indivíduos não diabéticos. Eles encontraram que o consumo a longo prazo de adoçantes artificiais resultou no aumento de peso e altos níveis de glicose no sangue em jejum, entre outros efeitos negativos para a saúde. Mesmo o consumo de adoçantes artificiais por períodos curtos de tempo resultou em intolerância à glicose e mudanças significativas na composição da microbiota intestinal. As respostas individuais variaram, levando os pesquisadores a considerar o desenvolvimento personalizado de métodos para melhorar a qualidade da nutrição como uma direção futura de pesquisas.
Muitas pessoas consideram que adoçantes artificiais são uma boa opção dietética para a perda de peso e controle dos níveis de glicose. No entanto, este estudo sugere que os adoçantes artificiais tem efeito totalmente contrário para muitas pessoas.
Leia o artigo científico na íntegra:
‘Artificial sweeteners induce glucose intolerance by altering the gut microbiota’
Fonte: National Human Genome Research Institute