Veículo: Portal da Revista Crescer Estado: SP
Data: 18 de março de 2016
Assunto: Microcefalia
Link: http://revistacrescer.globo.com/Voce-precisa-saber/noticia/2016/03/risco-de-microcefalia-pelo-virus-zika-e-de-1-diz-estudo.html
Uma análise publicada nesta semana na revista científica britânica The Lancet concluiu que 1% dos filhos de mulheres que contraíram o vírus zika durante o primeiro trimestre da gestação têm microcefalia. A estatística, a princípio, pode parecer um consolo no meio de tantos casos no país, porém é preciso ter cautela. “Os achados são da epidemia de 2013 e 2014 na Polinésia Francesa e ainda será preciso observar se nossas descobertas se aplicam da mesma forma a outros países”, disse Simon Cauchemez, pesquisador do Instituto Pasteur de Paris e um dos autores do estudo.
De acordo com essa estimativa, as chances de a criança ter microcefalia associada ao zika são menores do que as de malformações ligadas a outras doenças, como citomegalovírus. O risco de filhos de mulheres infectadas apresentarem malformações, nesse caso, é de 13%. Bebês de mães que contraem rubéola nos três primeiros meses de gravidez têm de 38 a 100% de chances de sofrer consequências, como aborto, morte fetal ou anomalias congênitas.
Cautela na interpretação
O percentual pequeno pode encher de esperança as grávidas ou mulheres que pretendem engravidar em breve no Brasil. No entanto, é preciso ter cautela e continuar se protegendo ao máximo da doença. Para Arnaud Fontanet, professor do Instituto Pasteur de Paris, que também está envolvido na pesquisa, as informações da Polinésia Francesa são particularmente importantes, já que o surto acabou. “Isso nos dá um conjunto de dados pequeno, mas muito mais completo do que aquele disponível em uma epidemia em curso. Muitas outras pesquisas são necessárias para entender como o vírus da zika pode causar microcefalia. Nossos achados apoiam as recomendações da OMS para mulheres grávidas se protegerem das picadas dos mosquitos”, reforçou.
“É preciso levar em consideração que é um estudo retroativo, ou seja, feito a partir de dados coletados no passado. O vírus pode ter mudado, ficado mais teratogênico, ou seja, adquirido mais capacidade de afetar o bebê, ou a resistência das pessoas pode estar diferente”, relativiza Antônio Misiara, infectologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo (SP). Segundo o especialista, é preciso considerar que o cenário muda rapidamente. “O estudo está olhando para trás. Hoje, a cada dia, as pesquisas descobrem fatores novos”, diz.
Para Ciro Martinhagom, doutor em genética reprodutiva, diretor da Clínica Ciro Martinhago Medicina Genômica (SP) e membro da equipe de genética do Hospital Israelita Albert Einstein (SP), o anúncio é precipitado, porque é preciso considerar contextos específicos. “Sabemos, por exemplo, que 77% dos casos de microcefalia associada ao zika ocorre em famílias com renda entre R$ 100 e R$ 400, ou seja, pode ser que haja uma vulnerabilidade imunológica específica, desnutrição ou outro fator que aumente a prevalência nessa população”, aponta.
Engravidar ou não?
Para Misiara, o melhor é ter calma nesse momento. “Se for possível postergar a gravidez para, na melhor das hipóteses, daqui a três anos, até que se tenha mais informaões, é o mais recomendado. Se não puder, por conta da idade ou outros fatores, o melhor é conversar antes com o obstetra para obter orientações”, completa.
Para as que já estão grávidas, as recomendações continuam as mesmas: uso de repelentes, de roupas claras, de mangas compridas, telas nas janelas e o contribuir para a erradicação do mosquito.