By Angelina Jolie – New York Times, 14.05.2013fotos-angelina-jolie-12

Minha mãe lutou contra o câncer  durante uma década e morreu aos 56 anos. Ela aguentou o suficiente para conhecer e abraçar seus primeiros netos. Porém, meus outros filhos nunca terão a oportunidade de conhecê-la e saber o quanto amorosa e generosa ela era.
Nós costumamos falar sobre ‘a mamãe da mamãe’, e eu me descobri tentando explicar aos meus filhos a doença que a levou. Eles me perguntaram se a mesma coisa poderia acontecer comigo. Eu sempre disse a eles para não se preocuparem, mas a verdade é que eu carrego um gene ‘defeituoso’ – BRCA1 – que aumenta potencialmente o risco de desenvolvimento de câncer de mama e de ovário.
Meus médicos estimaram que eu teria 87% de risco de desenvolver câncer de mama e 50% de risco para câncer de ovário, ainda que o risco seja diferente para cada mulher.
Apenas uma fração dos canceres de mama são resultado de uma mutação genética herdada. Mulheres com defeito no gene BRCA1 tem um risco médio de 65% de desenvolvê-lo.
Uma vez que eu soube que esta seria a minha realidade, eu decidi ser pró-ativa e minimizar o risco o mais possível. Eu decidi fazer uma dupla mastectomia preventiva. Comecei com as mamas, pois meu risco de câncer de mama é mais alto do que o risco de câncer de ovário, e a cirurgia é mais complexa.
Em 27 de abril, terminaram os três meses de procedimentos médicos que envolvem as mastectomias. Durante esse tempo eu mantive o assunto em privacidade e continuei com meu trabalho.
Mas escrevo sobre isso agora porque espero que outras mulheres possam se beneficiar da minha experiência. Câncer ainda é uma palavra que desperta medo no coração das pessoas, produzindo profundo sentimento de impotência. Mas hoje é possível descobrir, por meio de uma amostra de sangue, se você é altamente suscetível a desenvolver câncer de mama ou de ovário, e então tomar uma atitude.
Meu processo começou no dia 2 de fevereiro com um procedimento conhecido como “nipple delay”, que procura excluir a doença dos dutos mamários localizados atrás do mamilo e promove maior circulação do sangue na área. Isso causa um pouco de dor e um monte de hematomas, mas aumenta a chance de salvar o mamilo.
Duas semanas depois eu passei pela cirurgia maior, onde o tecido mamário é removido e enchimentos temporários são colocados no lugar. A cirurgia pode levar oito horas. Você acorda com drenos e expansores nos seus seios. Parece uma cena de filme de ficção científica. Alguns dias depois da cirurgia você pode ter vida normal.
Nove semanas depois, a cirurgia é completada com a reconstrução das mamas com um implante. Houve muitos avanços nesse procedimento nos últimos anos, e os resultados podem ser lindos.
Eu quis escrever este depoimento para dizer às mulheres que a decisão de fazer a mastectomia não é fácil. Mas eu estou feliz por ter feito. Minhas chances de desenvolver câncer de mama caíram de 87% para menos de 5%. Eu posso dizer aos meus filhos que eles não precisam ter medo de me perder para o câncer de mama.
É reconfortante que eles não vejam algo que lhes seja desconfortável. Eles podem ver minhas pequenas cicatrizes e só. Todo o resto é só Mommy, a mesma, como sempre foi. E eles sabem que eu os amo e farei qualquer coisa para estar com eles o máximo que puder.
Sob o ponto de vista pessoal, eu não me sinto ‘menos’ mulher. Eu me sinto fortalecida por ter tomado uma decisão difícil e que de forma alguma diminui minha feminilidade.
Eu sou afortunada por ter um companheiro, Brad Pitt, que é tão amoroso e que meu deu todo apoio. Assim, para quem tiver uma esposa ou namorada que vai passar pelo processo, é bom saber que você é uma parte muito importante nessa transição. Brad estava no ‘Pink Lotus Breast Center’, quando eu fui tratada, em cada minuto das cirurgias. Nós até tivemos momentos de boas risadas. Nós sabíamos que esta foi a maneira certa de agir em prol de nossa família e que ficaríamos mais ligados por conta disso. E assim foi.
Para todas as mulheres que estejam lendo meu depoimento, eu espero que este lhes mostre que existem opções. Eu quero encorajar cada mulher, especialmente se você tiver um histórico de câncer de mama ou de ovário na família, a procurar informação com médicos especialistas que poderão ajudar nesse aspecto de sua vida, para que você possa tomar decisões bem baseadas.
Eu sei que existem inúmeros e maravilhosos médicos holísticos trabalhando com alternativas à cirurgia. Meu protocolo de tratamento será colocado brevemente no website do ‘Pink Lotus Breast Center’. Eu espero que possa ser útil para outras mulheres.
O câncer de mama mata cerca de 458 mil pessoas a cada ano, de acordo com Organização Mundial da Saúde, a maioria em países não desenvolvidos. Tem sido uma prioridade assegurar que mais e mais mulheres tenham acesso aos testes genéticos e fazer um tratamento preventivo, qualquer que seja seu status social, ou onde vivam. O custo para verificar alterações nos genes BRCA1 e BRCA2, mais de 3 mil dólares nos Estados Unidos, é um obstáculo para muitas mulheres.
Eu decidi por não manter minha história na privacidade porque existem inúmeras mulheres que não sabem que não precisam viver sob a sombra do câncer. É minha esperança que elas, também, possam ter seus genes testados, e que se tiverem um alto risco que também possam saber que tem fortes opções.
A vida apresenta muitos desafios. Aqueles que não devem nos amedrontar são aqueles que podemos conhecer e controlar.
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