Veículo: Jornal O Povo
Data: 29 de julho de 2014 Estado: CE
Assunto: Artigo de genética
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Dr. Ciro Martinhago
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Geneticista e diretor da Clínica Ciro Martinhago Medicina Genômica
 
 
A revolução genômica está batendo à porta, mas existem vários ‘aindas’ para o seu estabelecimento: ajustes que precisam ser avaliados, repensados e debatidos socialmente. Já somos capazes de diagnosticar com precisão próxima do absoluto e muito precocemente a tendência de desenvolvermos doenças e, assim, tomar medidas preventivas. No entanto, é preciso ainda cautela para não cairmos na ‘farra genômica’ onde tudo se resolve com testes genéticos. A indicação de um teste genético depende de fatores que precisam ser analisados pelo médico geneticista, correlacionados com uma anamnese clínica e mesmo cotejados com outros exames complementares.
Estamos capacitados para antever problemas genéticos em fetos de apenas nove semanas. No entanto, ainda precisamos lidar com os debates éticos e bioéticos que circundam os testes pré-natais não invasivos e o nascimento de uma criança com problemas genéticos. Ainda nos debatemos com os custos genômicos, mas os preços estão baixando aceleradamente. No Brasil, com as normas publicadas pela Agência Nacional de Saúde, os convênios agora cobrem 29 testes genéticos, que podem desdobrar para 74, se o médico geneticista julgar necessário aprofundar a investigação.
O aconselhamento genético é um processo complexo de informações e suporte clínico, pessoal, emocional ao paciente/casal. O mercado profissional da genética ainda é pequeno para o porte da demanda, mas cresce o interesse por cursos de especialização em genética para outras profissões, como enfermagem e psicologia, o que é uma boa notícia principalmente para o aconselhamento genético.
Os desafios genômicos são tão grandes quanto as possibilidades desta nova forma de fazer e entender a medicina. Grandes também são as responsabilidades éticas que cabem aos profissionais envolvidos na prática clínica, laboratorial e na pesquisa. Ainda vivemos uma fase de encantamento entusiástico, tanto para projetar soluções genéticas quanto para antecipar problemas que podem envolver a medicina genômica.
O que importa realmente é que estamos construindo um mundo novo que pode se tornar maravilhoso, onde poderemos praticar a medicina da saúde, e isso é bom para toda a sociedade. Mais do que nunca as mentes de todos os que fazem parte deste mundo novo precisam estar abertas e maleáveis para o diálogo. E com muita, muita vontade de aprender.