trombose (1)
A trombofilia é uma condição hereditária ou adquirida que pode levar um indivíduo ao tromboembolismo. Recentemente, três importantes trombofilias hereditárias foram descobertas como sendo responsáveis pela maioria dos eventos tromboembólicos em pacientes sem risco aparente de trombose. A primeira, uma mutação no gene do Fator V de Leiden, é encontrada em aproximadamente 5% da população e é responsável por 20-30% dos eventos de tromboembolismo venoso. Esta mutação em homozigotos (dois alelos mutados) aumenta o risco de trombose venosa em até 80 vezes. Em heterozigotos (um alelo mutado) aumenta o risco 8 vezes. O uso de contraceptivos orais e as gestações aumentam estes riscos basais. A associação do Haplótipo R2 com o Fator V de Leiden eleva ainda mais o potencial de risco de fenômenos trombóticos. Essa condição genética é autossômica dominante, e deve-se monitorar o paciente de forma constante. O uso de anticoagulantes  pode ser indicado de acordo com critério médico. Deve-se aumentar o cuidado com o tabagismo e  contracepção ou reposição com hormônios ovarianos.
Na segunda, a mutação no gene da Protrombina é associada com o aumento da concentração da protrombina plasmática e aumenta o risco para tromboembolismo venoso e trombose cerebral. Indivíduos que possuem um gene alterado (heterozigoto) para esta mutação têm um risco 6 vezes aumentado de sofrer uma trombose venosa. O risco é consideravelmente aumentado pelo uso de contraceptivos orais e na gravidez.
Caso a mulher seja portador heterozigota para os dois genes (Fator V e Protrombina) o risco de um acidente vascular cerebral isquêmico (AVC) pode aumentar em 149X se a mesma fizer uso de anticoncepcional oral. Portanto, o exame de DNA de detecção da mutação para esses dois genes torna-se necessário em qualquer mulher que venha fazer o uso de anticoncepcional oral, que queira engravidar ou iniciar uma terapia de reposição hormonal.
Na terceira forma de trombofilia hereditária, a mutação no gene MTHFR (Metilenotetrahidrofolato redutase) é a mais freqüente causa do aumento moderado de homocisteína e pode ser encontrado em 5-15% da população. A mutação em homozigose está associada a um risco 5-6 vezes aumentado de trombose venosa. A homocisteína é um fator independente no risco de arterioesclerose, derrame cerebral, doenças vasculares periféricas e cardiopatias. Porém, a mutação C677T só deve ser considerada patogênica em pacientes que são homozigotas, pois a heterozigose é variante da normalidade, uma vez que mais de 40% das mulheres Brasileiras apresentam esse status.
Porém, a grande discussão atual é se as trombofilias hereditárias ou até mesmo as adquiridas podem influenciar na fertilidade feminina. Apesar de discutível, alguns autores conseguem correlacionar uma estreita ligação das trombofilias hereditárias e abortamento de repetição após 9 semanas de gestação, porém, não há correlação clínica cientifica que evidencie relação com infertilidade. Portanto, o uso de heparina de baixo peso molecular só se justifica em casos de abortamento que tenham ocorrido no final do primeiro trimestre gestacional.
 

Interação entre Fator V (Leiden) ou mutação para Protrombina e uso de

Anticoncepcional Oral (ACO) para determinação de um Tromboembolismo Venoso

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Martinelli et al., 2003