MAY 30, 2016

Inúmeros repelentes de insetos, mosquitos multicoloridos e muito mais.

O Brasil está em crise. No começo do mês, a presidente Dilma Roussef foi afastada do cargo depois de uma série de escândalos que permitiram os procedimentos para o seu impeachment. Os recém instalados líderes da oposição estão lidando também com a sua série de processos  de corrupção. E o vírus Zika, detectado pela primeira vez no Brasil em abril de 2015, continua a preocupar os oficiais da saúde pública, especialmente com o advento dos jogos olímpicos no Rio de Janeiro.
zika virus e fertilizacao in vitro
Até agora, a abordagem do novo governo contra o Zika tem sido questionável, na melhor das hipóteses: o novo ministro da Saúde, Ricardo Barros, é um engenheiro sem experiência anterior na administração de saúde. E enquanto Barros tem como prioridade a luta para erradicar o mosquito Aedes aegypti, ele encara números preocupantes sobre o problema:  o Zika infectou 120.161 brasileiros em 2016, com outros 1.434 casos confirmados de microcefalia desde Outubro ( acima dos cerca de 150 por ano).

Como o virus Zika tem afetado o dia a dia dos brasileiros?

Quando se trata do Zika, não há privacidade: Como parte do plano do governo de erradicação do Aedes aegypti, os agentes federais de saúde foram de porta em porta inspecionar quintais e educar o público. Desde que Rousseff assinou uma nova regra, em janeiro, na qual esses agentes estão autorizados a forçar seu caminho para entrar nas residências – incluindo pessoas públicas e privadas – para pesquisar os criadouros do mosquito, caso ninguém atende a porta depois de duas visitas. Se necessário, a polícia pode ser chamada para ajudar na entrada à força.
Houve uma corrida por repelentes: Em novembro passado, logo após o anúncio do governo de que o aumento de casos de microcefalia no nordeste do Brasil foi provavelmente relacionado com Zika, muitos brasileiros, especialmente mulheres grávidas, correram para farmácias para comprar repelente de mosquitos. Mas não qualquer repelente: especialistas na área começaram a recomendar uma marca específica, Exposis, que é o único no Brasil feito com icaridina, um ingrediente que diz garantir até 10 horas de proteção.

“Eu recebi chamadas de pessoas aterrorizadas pela ideia de que seus bebês possam nascer com microcefalia e que precisamos fazer alguma coisa”

De acordo com Paulo Castejón Guerra Vieira, diretor-geral da Osler do Brasil – o laboratório que produz Exposis – a empresa tinha se preparado para as epidemias de dengue e de chikungunya, mas foi surpreendido pela explosão do Zika. A escassez resultante levou a um mercado negro do repelente, e com o Exposis sendo vendido pelo dobro do seu preço original, que já é caro – cerca de US$ 16 por frasco. As mulheres grávidas começaram a estocá-lo. A produção aumentou 30 vezes para atender a demanda. “Eu recebi chamadas de pessoas dizendo que estavam com medo que seus bebês nascessem com microcefalia e que devíamos fazer alguma coisa”, diz Guerra. “Fizemos tudo o que podíamos para aumentar a produção.” Eles foram finalmente capazes de atender a demanda quatro meses depois, em março.
zika virus
Introdução de mosquitos coloridos e matadores: milhões de mosquitos geneticamente modificados foram liberados como parte de projetos de pesquisa para reduzir a população de mosquitos em todo o país. No teste mais recente, mosquitos transgênicos ajudaram a provocar uma redução de 82% de larvas em um bairro na cidade de Piracicaba, localizada no estado de São Paulo. (O mosquito GM produzido pela empresa Oxitec tem uma alteração que impede descendentes de desenvolvimento.) Duas cidades do Estado da Bahia têm visto resultados semelhantes com mosquitos transgênicos.
Fertilização in vitro ficou um pouco mais complicada: Muitos casais estão adiando a gravidez por conta do risco de microcefalia. Mas e aqueles que estão considerando fazer uma fertilização in vitro? De acordo com as novas leis, eles tem que fazer o teste de virus Zika.
Os testes se tornaram obrigatórios desde Abril, de acordo com a resolução da Anvisa, órgão fiscalizador equivalente ao FDA, e agora o teste deve ser feito para o casal e também para os doadores de esperma de óvulos. De acordo com o geneticista Ciro Martinhago, diretor de um laboratório especializado em genética reprodutiva em São Paulo, diversos casais que começaram o processo de fertilização in vitro no fim do ano passado decidiram fazer a transferência do embrião somente no inverno brasileiro, quando há menos mosquitos.
O laboratório de Martinhago foi o primeiro a oferecer um teste molecular para detector o virus Zika no sêmen, e ele tem tido pedidos de exame de homens que não pretendem passar pela fertilização in vitro, mas que querem ter certeza de que não vão colocar suas parceiras sexuais em risco.
De acordo com dados preliminares publicados na revista Emerging Infectious Diseases, o vírus pode ser detectado no sêmen humano em até 62 dias após os primeiros sintomas da virose. No dia 10 de maio, o ministro da saúde do Brasil recomendou o uso de camisinhas para prevenir a transmissão sexual do Zika, especialmente para as mulheres grávidas.

“O laboratório de Martinhago foi o primeiro a oferecer um teste molecular para detector o virus Zika no sêmen, e ele tem tido pedidos de exame de homens que não pretendem passar pela fertilização in vitro, mas que querem ter certeza de que não vão colocar suas parceiras sexuais em risco”.

Brasileiros pobres são mais afetados pela microcefalia, e os oficiais da saúde não sabem o porquê: a Microcefalia, a mais severa condição associada ao vírus Zika, parece que tem um impacto muito maior sobre a população mais pobre. De acordo com dados divulgados pela Secretaria Social de Desenvolvimento da Criança e da Juventude de Pernambuco, um dos primeiros estados afetados pelo surto de microcefalia, 69% de 1.947 casos reportados no início de maio vieram de famílias vivendo em extrema pobreza.
Embora as populações de baixa renda sejam mais propensas a serem expostas aos mosquitos, os cientistas estão procurando outros fatores que podem estar aumentando o risco de microcefalia, especificamente, a má nutrição e exposição a infecções anteriores.
Fonte: Mother Jones