Veículo: Portal G1
Data: 15 de novembro de 2014 Estado: SP
Assunto: Análise de Embriões
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Fernanda Camargo Demário e seu marido, Eduardo, optaram pela seleção genética de embriões (Foto: Fernanda Camargo Demário/Divulgação)

Fernanda Camargo Demário e seu marido, Eduardo, optaram pela seleção genética de embriões (Foto: Fernanda Camargo Demário/Divulgação)

 
A seleção genética de embriões tem sido cada vez mais procurada por casais que temem ter bebês com doenças genéticas, problema mais comum quando a mãe é mais velha. Essa técnica prevê uma análise dos cromossomos dos embriões para verificar se possuem alguma alteração. Anomalias cromossômicas podem determinar síndromes como a de Down ou a de Turner, por exemplo. Com base nos resultados dessa análise, é possível selecionar aqueles embriões livres desse tipo de falha para implantá-los na fertilização in vitro.
A estratégia pode ser usada por casais que já têm um filho com uma síndrome genética e buscam diminuir os riscos de que o próximo filho tenha o mesmo problema. Também pode ser usada para que o bebê tenha compatibilidade com um irmão mais velho que tenha alguma doença que necessite de transplante de medula óssea, por exemplo.
Mas, segundo o médico geneticista Ciro Martinhago, é cada vez mais comum que casais que nunca tiveram outros filhos busquem a técnica temendo o risco aumentado de síndromes genéticas quando a mulher é mais velha. “Hoje, as mulheres estão deixando para ter filhos mais velhas. Acima dos 35 anos de idade, a mulher começa a produzir óvulos com alterações genéticas. Isso faz com que ela tenha um risco aumentado de ter bebês com síndrome de Down e outras alterações cromossômicas, e também aumenta o risco de infertilidade ou aborto”, diz o especialista.
O ginecologista Flávio Garcia de Oliveira, especialista em reprodução humana, também percebe essa preocupação entre seus pacientes. “Quando a mulher passa dos 38, 39 anos, começa a ficar preocupada em ter filho com algum problema. O casal entra na consulta e já pergunta qual é o risco de isso acontecer”, diz. Segundo Oliveira, estudos mostram que, em uma mulher de 25 anos, 80% dos óvulos são normais. Quando chega aos 40 anos, isso se inverte: a maioria dos óvulos passam a ter alguma anormalidade.
Esses números preocuparam Fernanda de Camargo Demário, de 40 anos. Ela e o marido resolveram ter filhos recentemente. “Quando comecei a pesquisar sobre gravidez com essa idade, vi que os riscos são vários, inclusive o aumento de síndromes genéticas”, conta.
Se é uma coisa tão planejada, que demorou tanto tempo para decidir, por que não incluir isso no planejamento — buscar aconselhamento genético?”
Fernanda Demário
A preocupação levou o casal a se decidir por uma fertilização in vitro, para que pudessem selecionar os embriões saudáveis. “Não tentamos pelo método natural, fomos direto para a fertilização in vitro porque é a única que dá a chance de analisar os embriões”, diz. “Pensamos: se é uma coisa tão planejada, que demorou tanto tempo para decidir, por que não incluir isso no planejamento? Ir até a clínica e buscar aconselhamento genético”, acrescenta Fernanda.
Ela e o marido também levaram em conta que, com a seleção dos embriões, as chances de sucesso da gravidez são maiores do que sem a seleção. “Perder o bebê também é um processo doloroso. Esse é um jeito de melhorar nossas chances de sucesso e evitar problemas na gravidez e no futuro.”
Oliveira confirma que embriões com um conjunto normal de cromossomos têm maior chance de sucesso na fertilização in vitro.
De acordo com Martinhago, defeitos em 5 cromossomos são responsáveis por 95% das malformações congênitas. A análise cromossômica dos embriões permite identificar síndromes como a de Down, a de Turner, a de Patau, a de Edwards e a de Klinefelter.
O geneticista explica que analisar o cromossomo é como analisar o genoma de uma forma mais grosseira. “Enxergo o DNA em grandes porções. Dentro de um cromossomo, existem milhares de genes”, diz. Segundo Martinhago, no futuro deve ser possível fazer a análise genômica dos embriões. Mas, para que isso seja permitido, é preciso resolver questões éticas.
A resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que define as regras da reprodução assistida, lançada em 2010, permite que a seleção de embriões seja usada em casos de prevenção ou tratamento de doenças. Não é permitido, porém, que a seleção busque a escolha do sexo do bebê.